A Reforma Protestante do Século XVI – Fevereiro/2004

“O justo viverá pela sua fé”

O texto de Romanos 1:17
foi fundamental para que surgisse
a Reforma Protestante no Século XVI

Quando Martinho Lutero leu essa passagem
das Escrituras, foi convencido de que nossa justificação não se dá através
das boas obras, mas sim através da fé.
Inicialmente, ‘Reforma Protestante’ foi um termo pejorativo
empregado pelos católicos romanos àqueles que protestaram
contra o sistema religioso da época, mas esse termo
foi assimilado e usado a partir do século XVI até nossos dias
para designar os grandes fatos vividos pelos que desejavam
e desejam pautar sua vida religiosa
segundo a Bíblia.

Que foi a Reforma
Protestante?

Dependendo do ponto de vista, poderíamos ter vários conceitos. No entanto, consideramos a Reforma como um movimento de retorno aos padrões bíblicos do Novo Testamento. Isso expressa a realidade da “Reforma Protestante”, pois tudo que se fez tinha a finalidade de levar as pessoas a se aproximarem de Deus através de um relacionamento profundo com Ele.

Por que aconteceu
a Reforma Protestante?

Alguns fatores contribuíram para que acontecesse a Reforma. Entre eles podemos destacar os seguintes:

a) As mudanças geográficas. O século XVI foi a era das grandes navegações realizadas pelas superpotências Portugal e Espanha e, consequentemente, das grandes descobertas. Com isso o mundo não se limitava mais à Europa, mas o novo mundo trouxe novos horizontes de conquista e expansão.

b) Mudanças políticas. Surgem as nações-estados. A Europa começa a se fragmentar em países independentes politicamente uns dos outros. Surgem países como a Inglaterra, França, Espanha, Portugal, etc. Com isso é natural o desejo de cada governante de sentir-se livre de um poder central e dominador que era o papado.

c) Mudanças intelectuais. Há grandes transformações intelectuais com o surgimento dos humanistas cristãos, os quais tiveram um interesse profundo pelo estudo das Escrituras Sagradas e das línguas originais e começaram a fazer uma comparação entre o Novo Testamento e o que a Igreja Católica Romana estava vivendo. Entre esses humanistas podemos destacar Desidério Erasmo ou Erasmo de Rotherdan que influenciou os reformadores com o seu Novo Testamento Grego.

d) Mudanças religiosas. O autoritarismo da Igreja católica romana era insustentável. O catolicismo não satisfazia os anseios espirituais do povo que buscava uma religião satisfatória e prática, que respondesse às suas indagações e expectativas.

Onde aconteceu
a Reforma Protestante?

A Reforma aconteceu na Alemanha, mas logo, se espalhou para outros países como Inglaterra, Suíça, França, Escócia, etc. Em cada país podemos destacar um líder que levou avante este movimento.

Quando
ocorreu a Reforma?

A partir do final do Século XII, começam a surgir alguns movimentos na Europa que pediam mudanças dentro da Igreja Católica Romana. Entre eles podemos destacar dois grupos:

Os valdenses com Pedro Valdo na Itália.

Os cataritas na França.

Também surgiram alguns homens que podemos considerá-los pré-reformadores como:

John Wycliff na Inglaterra, no século XIV, 1384

John Huss na Boêmia, no começo do século XV, 1415

Jerônimo Savanarola na Itália, no final do século XV, 1498

A Reforma Protestante, no entanto, só aconteceu no Século XVI na Alemanha, quando o frade agostiniano Martinho Lutero afixou as 95 teses nas portas da igreja do castelo de Wittenberg.

Era o dia 31 de outubro de 1517, véspera do dia de “todos os santos”, quando milhares de peregrinos afluíam para Wittenberg para a comemoração do feriado do “dia todos os santos e finados”, 01 e 02 de novembro.

Era costume pregar nos lugares públicos os avisos e comunicados. Lutero aproveitou a oportunidade e, através de suas teses, combatia as indulgências que eram vendidas por João Tetzel com a falsa promessa de muitos benefícios. Ele dizia que, se alguém comprasse uma indulgência para um parente falecido, “no momento em que a moeda tocasse no fundo do cofre a alma saltava do inferno e ia direto para o céu”.

Quais foram
os principais reformadores?

Na Alemanha, Martinho Lutero (1483/1546)

Na Suíça, Huldreich Zwínglio (1484/1531) e João Calvino (1509/1564)

Quais foram
as principais obras de Lutero?

Lutero expressa suas ideias através de três obras. São elas:

a) A Liberdade Cristã. Nesse livro, pregou que somos livres em Cristo. Negou nessa obra que somente o papa pudesse interpretar as Escrituras, mas que podiam ser lidas e interpretada por qualquer crente sincero.

b) Apelo à Nobreza. Aqui Lutero faz um apelo para o povo se unir contra a Igreja Católica Romana.

c) Cativeiro Babilônico da Igreja. Afirmava que a Igreja estava vivendo num cativeiro, assim como o povo de Israel esteve na Babilônia escravizado.

Quais eram as principais doutrinas
defendidas por Lutero?

a) Justificação pela fé. Baseado nos ensinos de Paulo, ele ensinava que o homem não é justificado pelas suas obras, mas pela fé em Jesus Cristo.

b) A infalibilidade da Bíblia. Ele considerava a Bíblia infalível e acima de toda e qualquer tradição religiosa. Enquanto a Igreja Católica Romana defendia a ideia de que o papa era infalível e a Bíblia era sujeita à sua interpretação, Lutero afirmava que A Bíblia estava acima do papa, pois ela é a Palavra de Deus inspirada pelo Espírito Santo.

c) Sacerdócio de todos os crentes. Lutero negava o conceito que afirmava ter o papa poderes sobrenaturais como intermediário entre o povo e Deus. Ele defendia a ideia de que todo crente é um sacerdote e tem livre acesso à presença de Deus. Não precisamos de um intermediário, o único intermediário entre o homem e Deus é o Senhor Jesus Cristo.

Quais eram os princípios
fundamentais da Reforma?

a) Supremacia das Escrituras sobre a tradição.

b) A supremacia da fé sobre as obras.

c) A supremacia do povo sobre o sacerdócio exclusivo.

Lutero foi vitorioso?

Sim. Apesar das tentativas para condenarem Lutero, o papa e o Imperador Carlos V não conseguiram. Quando foi convocado a comparecer ao concílio diante do imperador, ele expressou-se destemidamente da seguinte forma: “É impossível retratar-me, a não ser que me provem que estou laborando em erro, pelo testemunho das Escrituras ou por uma razão evidente. Não posso confiar nas decisões de concílios e de Papas, pois é evidente que eles não somente têm errado, mas se têm contraditado uns aos outros. Minha consciência está alicerçada na Palavra de Deus. Assim Deus me ajude. Amém”.

Uma das expressões mais profundas do sentimento de Lutero está no hino Castelo Forte que diz:

“Que a Palavra ficará, sabemos com certeza, e nada nos assustará, com Cristo por defesa; se temos de perder os filhos bens, mulher, embora a vida vá, por nós Jesus está, e dar-nos-á seu Reino”.

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Fonte: Artigo publicado no Jornal Aleluia de fevereiro de 2004

História do Pentecostalismo – Setembro/2006

“O justo viverá pela sua fé”

Quando falamos em Pentecostalismo,
referimo-nos a um fenômeno característico
do século XX: o avivamento que aflorou
em Los Angeles, USA, em 1906

Analisando a História da Igreja, podemos observar nitidamente que Deus sempre avivou ou reavivou sua Igreja em várias ocasiões diferentes. Esses períodos da Era Cristã foram marcados por reavivamentos maravilhosos, onde Deus se manifestou aos seus servos de forma sobrenatural.

No período da Reforma Protestante, no século XVI, Deus levantou homens como Martinho Lutero, João Calvino e John Knox. No século XVIII, ocorreu o Avivamento Morávio com o Conde Zinzendorf, o Grande Reavivamento na Inglaterra com John Wesley, Charles Wesley e George Whitefield e o Reavivamento Americano com Jonathan Edwards. Nenhum destes avivamentos foi conhecido como Pentecostal, pois o termo é do início do século XX, quando houve o derramamento do Espírito Santo nos Estados Unidos da América, semelhante à manifestação de Atos dois.¹

Conceito de avivamento espiritual

A palavra “Avivamento” vem do verbo “avivar” que significa: tornar mais vivo, despertar, reanimar-se e vivificar-se. John Stott conceitua avivamento como: “… uma visitação inteiramente sobrenatural do Espírito soberano de Deus, pela qual uma comunidade inteira toma consciência de Sua santa presença e é surpreendida por ela”.2 Devemos compreender que Avivamento é o cumprimento da Promessa de Deus em Joel 2 e a resposta da oração, inspirada pelo Espírito Santo, do profeta Habacuque que dizia: “Aviva a tua obra, ó Senhor, no decorrer dos anos”.3

Avivamento é, acima de tudo, a manifestação de Deus no meio do povo, através do Espírito Santo, com a finalidade de renovar, reavivar e despertar a Igreja sonolenta e acomodada. O movimento Pentecostal é fruto de um Avivamento genuíno que ocorreu na América do Norte, no início do século passado, e que se espalhou por todo mundo, inclusive no Brasil.

Origens do Pentecostalismo

Tradicionalmente, reconhece-se o começo do movimento Pentecostal com o Avivamento ocorrido em 1906, em Los Angeles (EUA), na Rua Azusa, caracterizado pelo batismo com o Espírito Santo, evidenciado pelos dons do Espírito: línguas estranhas, curas, profecias, interpretação de línguas, etc. O Avivamento na Rua Azusa, rapidamente cresceu alcançando outros lugares e pessoas de várias partes do mundo que foram até lá para conhecer, de perto, o movimento.4

Algum tempo depois, vários grupos semelhantes foram formados em muitos lugares dos USA, mas com o rápido crescimento do movimento, o nível de organização também cresceu até o grupo denominar-se Missão da Fé Apostólica da Rua Azusa. A partir desse movimento, houve um despertamento espiritual e nasceu um fervor missionário por parte daqueles que iam sendo avivados.

Pentecostalismo no Brasil

No Brasil, o Pentecostalismo chegou em 1910 e 1911 com a vinda de missionários que tinham sido avivados na América do Norte. O primeiro deles foi o presbiteriano Louis Francescon,5 que dedicou seu trabalho entre as colônias italianas no Sul e Sudeste do Brasil6 e resultou no nascimento da Congregação Cristã no Brasil. Logo depois, chegaram os batistas Daniel Berg e Gunnar Vingren7 que vieram como missionários para Belém, PA,8 e, ali, iniciaram a Igreja Assembleia de Deus, em 1911.9

Devemos entender que o Pentecostalismo brasileiro nunca foi homogêneo em razão de suas diferenças internas. O sociólogo Ricardo Mariano10 classifica-o em três vertentes:

Pentecostalismo Clássico

Deuteropentecostalismo e

Neopentecostalismo.11

Vejamos cada uma delas.

Pentecostalismo clássico

A primeira vertente do Pentecostalismo reproduziu no Brasil uma tipologia Norte-Americana e é chamada de “Pentecostalismo Clássico”, que abrange o período de 1910 a 1950. Esse é o período de fundação e “domínio” Pentecostal dessas duas denominações: a Congregação Cristã no Brasil e a Igreja Assembleia de Deus, que se difundiram em todo território nacional. Ambas caracterizavam-se pelo anticatolicismo, ênfase na crença no Espírito Santo, sectarismo radical, principalmente a primeira, e por um ascetismo que rejeitava os valores do mundo e defendia a plenitude da vida moral. Essa vertente constitui a maior Igreja Evangélica brasileira representada pela Assembleia de Deus atualmente.

Deuteropentecostalismo

A segunda vertente é chamada de “Deuteropentecostalismo” 12 vindo através da Igreja do Evangelho Quadrangular, 13 em 1951, com o missionário Harold Willians.14 Na capital paulista, ele criou a Cruzada Nacional de Evangelização e percorreu quase todos estados brasileiros. Seu trabalho era centrado na cura divina e na evangelização das massas, principalmente pelo rádio, contribuindo bastante para a expansão do Pentecostalismo no Brasil.15 Paralelamente, surgem duas Igrejas Pentecostais16 autônomas: “O Brasil para Cristo” (1955) e a “Igreja Deus é Amor” (1962), fundadas pelos missionários Manoel de Melo e David Miranda, respectivamente.

Nas décadas de 60 e 70, houve um movimento de avivamento com manifestações carismáticas, ou seja, pentecostais, nas Igrejas tradicionais, tendo como resultado o surgimento de vários grupos denominados “Renovados”. Há, a partir desse período, uma proliferação de novas Igrejas pentecostais, como por exemplo, a Igreja Presbiteriana Renovada do Brasil,17 a Convenção Batista Nacional, a Igreja do Avivamento Bíblico, a Igreja Metodista Wesleyana, a Igreja Cristã Maranata, entre outras.

Neopentecostalismo

A terceira vertente é a Neopentecostal.18 O neopentecostalismo tem início na segunda metade dos anos 70. São igrejas fundadas por brasileiros que, influenciados por movimentos norte-americanos, começaram suas denominações com características diferentes das duas vertentes anteriores. A Igreja Universal do Reino de Deus, a Internacional da Graça de Deus, a Comunidade Sara Nossa Terra e a Renascer em Cristo estão entre as principais. As igrejas neopentecostais utilizam intensamente a mídia eletrônica para propagar seu movimento, funcionam como empresas e pregam a Teologia da Prosperidade. O Neopentecostalismo constitui a vertente pentecostal mais influente e a que mais cresce hoje no Brasil.19

O Pentecostalismo iniciado na Rua Azusa, em 1906, está completando um século. E, como resultado de sua consistência e seriedade, tem-se mantido por todo esse tempo e com certeza continuará até a volta do Senhor. Os desvios e abusos que eventualmente têm surgido não podem descaracterizar aquilo que nasceu no coração de Deus, que é reavivar o seu povo para uma obra do fim.

Que Deus nos ajude a ser renovados a cada dia!

Bibliografia

CÉSAR, Elben M. Lens. História da Evangelização do Brasil. Viçosa, MG: Ultimato, 2000.

MARIANO, Ricardo. Neopentecostais. São Paulo: Edições Loyola, 1999.

STOTT, John. A verdade do Evangelho: um apelo a unidade. São Paulo: ABU Editora, 2000.

TUCKER, Ruth. “…Até os Confins da Terra”: Uma História Biográfica das Missões Cristãs. São Paulo: Vida Nova, 1986.

Notas bibliográficas

1 – Conhecido como Pentecostal por apresentar características espirituais semelhantes a do Pentecostes, registrado em Atos dois.

2 – STOTT, John. A verdade do Evangelho, p. 119.

3 – Habacuque 3: 2.

4 – Esse movimento de avivamento foi liderado por William Joseph Seymour.

5 – Louis Francescon era um Italiano que estava morando nos USA e mudou-se para o Brasil em 1910.

6 – O trabalho de Francescon se desenvolveu no Braz, em São Paulo,
e em Santo Antônio da Platina, no Paraná.

7 – Daniel Berg e Gunnar Vingren eram suecos.

8 – TUCKER, Ruth. “…Até os Confins da Terra”, p. 511.

9 – CÉSAR, Elben M. L. História da Evangelização do Brasil, p. 113.

10 – Ricardo Mariano é sociólogo e pesquisador do movimento Neopentecostal no Brasil.

11 – MARIANO, Ricardo. Neopentecostais, p. 23.

12 – O berço das igrejas Deuteropentecostais é São Paulo.

13 – A International Church of The Four-Square Gospel foi fundada em 1920, em Los Angeles, pela missionária canadense Aimee Semple Mcpherson.

14 – Harold Willians, ex-ator de filmes de Faroeste, que depois de convertido se tornou o missionário no Brasil.

15 – CÉSAR, p. 129 e 130.

16 – CÉSAR, p. 139.

17 – A Igreja Presbiteriana Renovada do Brasil foi organizada em Maringá, PR, no dia 08 de janeiro de 1975.

18 – Diferente da segunda, o berço das igrejas Neopentecostais é o Rio de Janeiro.

19 – www.pt.34of100e.info/Pentecostal.

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Fonte: Artigo publicado no Jornal Aleluia de setembro de 2006.

Ashbel Green Simonton: vida e missão – Biografia

Texto elaborado pelo Pastor Florêncio Moreira de Ataídes

(1833 – 1867)

No dia 27 de novembro de 1858,
o jovem Simonton encaminhou
à Junta de Missões Estrangeiras seu pedido formal para ser missionário, mencionando o Brasil como campo da sua preferência, deixando, no entanto, a decisão final aos cuidados da Junta.
Fora aceito. Em agosto de 1859 aportava no Rio de Janeiro.

Simonton nasceu no dia 20 de janeiro de 1833, em West Hanover, na Pensilvânia, descendente de presbiterianos escoceses-irlandeses que haviam migrado para os Estados Unidos. Era filho de William Simonton e Martha Davis. Tinha nove irmãos, sendo cinco homens, denominados os quinque frates (os cinco irmãos): William, John, James Thomas e quatro irmãs: Martha, Jane, Elizabeth (Lillie) e Anna Mary.

Desde cedo, Simonton recebeu as melhores influências morais, intelectuais e espirituais da fé presbiteriana em que fora criado e que podem ser facilmente observadas no seu diário, escrito a partir dos dezenove anos de idade.

Quando viajava ao sul dos Estados Unidos, atuando como professor, deixava transparecer, em suas reflexões e personalidade sensível, profundo interesse pelas coisas espirituais, embora, até então, não tivesse feito sua profissão de fé. Observava os problemas sociais de sua época, como, por exemplo, mostrando-se radicalmente contra a questão da escravidão. Sobre o comércio de africanos, considerava-o como um “tráfico desumano e nenhum homem com sentimento humanitário poderia se engajar nele” (MATOS, p. 27). Não concordava com o comportamento de homens que se aproveitavam dos seus semelhantes para se beneficiarem economicamente.

Importava-se também com os pobres e, na antevéspera do natal, expressou assim seus sentimentos: “O inverno chegou violento, neve e frio para o prazer dos ricos e desespero dos pobres (…) Neste inverno haverá mais sofrimentos entre as classes pobres do que jamais houve. Milhares de trabalhadores já foram despedidos nas cidades e aglomerados industriais; os aluguéis e a comida estão caros” (MATOS, p. 78). A situação precária de milhares de pessoas o incomodava: “isso consistia num grave problema social, o que não passou despercebido por ele. Simonton era uma pessoa preocupada com o social, almejando o bem-estar de todos” (ATAÍDES, p. 19).

Até então, não tinha tomado uma decisão de servir a Cristo, pois lhe faltava uma profunda experiência com Deus. No entanto, sua conversão não demorou muito para acontecer. Em março de 1855, a igreja, da qual sua mãe era membro, promoveu uma campanha de oração onde ele se entregou a Cristo, assumindo publicamente o seu compromisso com Deus. A partir daquele momento “passou a considerar o ministério como possibilidade em sua carreira. Fez, então, uma decisão corajosa que mudou para sempre o sentido de sua vida: respondeu afirmativamente ao apelo do pastor” (ATAÍDES, p. 20).

Em resposta ao chamado, em julho daquele ano, ingressou no Seminário de Princeton, a fim de preparar-se para o ministério. Ainda no primeiro semestre, ouviu, na capela do seminário, um sermão que o despertou para missões. “O pregador era o Dr. Charles Hodge, eminente teólogo e professor do seminário, que o fez pensar seriamente na possibilidade de devotar-se à obra missionária no estrangeiro. Aquele sermão tocou profundamente o coração sensível do jovem seminarista Simonton, levando-o a pensar seriamente, pela primeira vez, sobre o trabalho missionário” (ATAÍDES, p.23).

Com o consentimento de sua mãe, no dia 27 de novembro de 1858, encaminhou à Junta de Missões Estrangeiras o pedido formal para ser missionário, mencionando o Brasil como campo da sua preferência, deixando, no entanto, a decisão final aos cuidados da Junta. Foi aceito e ordenado pastor, começando os preparativos para a viagem no ano seguinte.

Na manhã do dia 18 de junho 1859, despediu-se, no porto de Baltimore, de sua mãe e de seu irmão John que o acompanharam até o navio. Sua mãe escreveu no diário dela naquela ocasião: “É difícil separar-se daqueles que talvez não vejamos mais na terra. Mas quando penso no valor das almas imortais que se estão perdendo pela falta do Evangelho puro… Recomendo você com orações e lágrimas ao Senhor, que tudo faz para o bem” (www.missiodei.com.br. In: 25/08/06). Oraram fervorosamente por ele e em seguida embarcou num navio à vela chamado Banshee, rumo ao Brasil. Estava deixando para trás sua pátria, família e amigos, muitos dos quais não mais veria nesta terra. Foram 55 dias de viagem, mas desembarcou, finalmente, no porto da capital do Brasil, o Rio de Janeiro, no dia 12 de agosto daquele ano.

Quando Simonton chegou aqui havia muitos protestantes ingleses (anglicanos) que tinham vindo para cá ao longo de meio século, liberados por tratado comercial entre o Império do Brasil e a Inglaterra. No entanto, eles não evangelizavam em razão das restrições que faziam parte do acordo. A religião oficial do Brasil Imperial era o catolicismo romano.

Simonton vivia a grande expectativa de pregar o evangelho aqui. Estava bem consciente de que devia amar as pessoas para ganhá-las para o Senhor, pois ser missionário sem amor era, para ele, um mau negócio. Como método de evangelização começou a dar aulas de inglês, como forma de estabelecer contato com as pessoas e aperfeiçoar sua fluência na língua portuguesa, o que lhe consistia um grande problema. Lutava para aprender o idioma o mais rápido possível, a fim de que pudesse comunicar bem o evangelho. Três meses depois de sua chegada ao Brasil escreveu: “O que mais me interessa agora é aprender a língua… e enquanto não o completar, não tenho condições de ser útil aqui… Todos os esforços que fiz até agora para aprender o português não tiveram sucesso” (MATOS, p. 132).

Depois de alguns meses no Brasil, “no dia 22 de abril de 1860, num domingo, Simonton realizou a primeira Escola Dominical em sua casa, sendo este seu primeiro trabalho em Português” (ATAÍDES, p. 40), o que o deixou muito feliz.

Simonton não ficou apenas no Rio, mas visitou várias cidades dos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, deixando nelas a semente do Evangelho, onde nasceram muitas igrejas presbiterianas.

No final de 1862, voltou a sua terra para visitar sua mãe que estava enferma. Infelizmente, quando chegou ela já havia partido para o Senhor. Teve a oportunidade de rever seus irmãos pela última vez, descrevendo assim esse encontro: “a noite passada, ficamos conversando até tarde sobre o passado e sobre os que partiram. Cada um contribuía com maior ou menor parte dos tesouros de sua memória; muitos incidentes e lembranças foram revividos e a conexão do presente com o passado parecia completa” (MATOS, p. 154).

Ainda no final daquele ano, Simonton conheceu a jovem Helen Murdoch com quem se casara em 19 de março de 1863. Em seguida, vieram para o Brasil e aqui Helen viveu cerca de um ano e veio a falecer por causa de complicações no parto.[1] Simonton enlutado e sozinho escreveu suas mais dolorosas palavras: “Deus tenha piedade de mim agora, pois águas profundas rolaram sobre mim. Helen está estendida em seu caixão, na salinha de entrada. Deus a levou de repente que ando como quem sonha” (MATOS, p.164).

A morte da esposa foi uma perda irreparável, um golpe do qual jamais se recuperou. No entanto, continuou o seu ministério com muito ardor. Com os colegas de ministério: Blackford, Schneider e Chamberlain, fundou algumas igrejas Presbiterianas (Rio, São Paulo e Brotas), organizou um Presbitério (o Presbitério do Rio de Janeiro), um jornal (Imprensa Evangélica), um Seminário (Seminário Primitivo) e uma Escola Paroquial (no Rio de Janeiro). Tudo isso ocorreu no curto período de oito anos e quatro meses.

Simonton fazia incansavelmente a obra de Deus e o seu trabalho prosperava em vários lugares. Um dos frutos mais importantes do seu ministério foi a conversão do padre José Manuel da Conceição, conhecido como JMC, que se tornou uma peça-chave na evangelização de muitas cidades nos estados de São Paulo e sul de Minas Gerais. JMC foi o primeiro pastor brasileiro ordenado.

Em novembro de 1867, Simonton foi acometido de febre amarela e não mais se recuperou. Apesar de ser devidamente assistido pelos médicos, não resistiu e faleceu precocemente, no dia 09 de dezembro de 1867, aos 33 anos. O túmulo do missionário Simonton está ao lado do de JMC, no Cemitério dos Protestantes, em São Paulo.

Em 12 de agosto de 1959, no centésimo aniversário de sua chegada ao Brasil, a Igreja Presbiteriana do Brasil colocou, ao pé da lápide do pioneiro, uma placa comemorativa com a seguinte inscrição: “Primeiro centenário da chegada do Rev. Ashbel Green Simonton ao Brasil. O seu trabalho não foi em vão no Senhor” (MATOS, p. 30).

Em 12 de agosto de 2009 comemoramos os 150 anos da chegada de Simonton ao Brasil para estabelecer o presbiterianismo. Como presbiterianos temos motivos para louvar a Deus pela sua vida. Reconhecemos a importância de seu trabalho, o qual continua frutificando para glória de Deus! Amém.

REFERÊNCIAS

ATAÍDES, Florêncio Moreira de. Simonton: o missionário que impactou
o Brasil. Arapongas, PR: Aleluia, 2008.

MATOS, Aldery Souza (org.). O Diário de Simonton. São Paulo, SP: Cultura Cristã, 2002.

www.missiodei.com.br. In: 25/08/06

[1] Helen Murdoch Simonton, filha de Ashbel e Helen, viveu quase toda sua vida em Baltimore, estado de Maryland nos Estados Unidos, e faleceu aos 88 anos, no dia sete de janeiro de 1952.

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FONTE: Texto elaborado pelo Pastor Florêncio Moreira de Ataídes
Publicado no Jornal Aleluia de julho de 2009